A prática clínica da Medicina Canabinoide é individualizada em sua essência. A prática clínica convencional também, em tese, deveria ser. Na prática, o desabastecimento dos serviços de saúde pública e de convênios gera instabilidade no processo de construção da relação Médico-paciente. Consultas rápidas e sem a profundidade necessária para a investigação dos casos clínicos somadas a cultura da ultra-especialização fazem com que os pacientes tenham que percorrer longos trajetos até que encontrem resolução para as suas demandas. Idas a vários especialistas, gastos e exposição pessoal com transporte, medicações, exames, intervenções e procedimentos (muitas vezes desnecessários e ineficazes), além de terem acompanhamento terapêutico limitado para orientações e ajustes, passando a correr alto risco de automedicação, polifarmácia e iatrogenias. A Medicina Canabinoide tem por obrigação ser uma prática de ajustes e acompanhamento terapêutico, fator inerente as características da Cannabis e dos fármacos que dela derivam.
Um dos determinantes ao sucesso de um tratamento, seja ele qual for, é a boa adesão terapêutica. O profissional que prescreve o tratamento deve passar confiança e orientar todos os detalhes relacionados para que o paciente não seja um sujeito passivo do processo da própria melhora. Deve haver clareza na comunicação de riscos, benefícios, reações adversas e interações com outras substâncias usadas. A visão do paciente como um todo, enxergando aspectos clínicos, biológicos, estruturais, sociais, psicológicos e financeiros, permite ao profissional detalhista uma análise completa para fazer a indicação de tratamento correta, mas isso é só o começo. A prática do acompanhamento pós-consulta é imprescindível em qualquer área, e na Medicina Canabinoide se torna ponto chave da adesão terapêutica e do progresso de tratamento, por se tratar do uso específico de derivados canábicos em diferentes proporções e concentrações, que precisam ter ajustes de dose e substâncias numa escala ampliada de detalhamento. Isso também é feito pelos bons profissionais de qualquer área, inclusive, não somente nas Clínicas Canábicas.
– AGENDE UMA CONSULTA COM O DOUTOR LEOPOLDO PIRES
Entende-se como princípio embasador da relação no binômio médico-paciente a harmonia bilateral, no qual nenhuma das partes deve exercer domínio ou apresentar hierarquia de poder no processo terapêutico. O usuário de serviços de saúde e seus familiares tem autonomia para decidir sobre sua própria saúde, devendo o profissional especialista oferecer conhecimento e suporte para que as escolhas sejam feitas com todo cuidado e racionalidade possíveis. Os pacientes da Cannabis comumente tem demandas complexas e uso de polifarmácia prévio a introdução da terapia canabinoide. Garantir uma consulta completa e bem explicada aumenta as chances do sucesso terapêutico ao longo do tempo. Manter canais abertos para ajustes e resolução de demandas sobre o tratamento em si são ações fundamentais para que a história natural das condições que acometem os pacientes tenham evolução favorável.
A comunicação das partes envolvidas no processo para além do binômio médico-paciente também é de extrema importância, como a família e outros profissionais que se envolvam no processo. Deve-se sempre considerar acompanhamento multidisciplinar, envolvendo outras especialidades da Medicina, Psicologia, Nutrição, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Odontologia, entre outros.
Existe arraigado na cultura brasileira ainda (apesar do cenário estar mudando recentemente) a crença de que o Médico é o detentor do conhecimento e que os pacientes devem apenas ouvir e obedecer, mas isso foge a o que definitivamente tem eficácia na prática: O profissional deve ser o fio condutor do tratamento que o paciente por livre e espontânea vontade vai entender, concordar e aderir, fazendo sua parte no próprio processo de cura. O que mantém os profissionais satisfeitos é receber a gratidão e o respeito daqueles que acreditaram no seu trabalho, pois além da saúde ser uma área de extrema dedicação e abdicação pessoal, é sim muito trabalho! Um profissional dedicado mantém seus pacientes bem orientados e a compreensão da rotina de acompanhamento por parte dos pacientes conforme estabelecida em conjunto torna a relação médico-paciente extremamente harmoniosa e benéfica.
Os limites éticos da relação devem sempre estar explicados e com ciência de todos, porém, no dia-a-dia, o que vai definir o sucesso dela (e consquentemente do tratamento estabelecido) são as ações tomadas por cada parte envolvida. Fora do que está escrito mas válido como lembrete final: profissionais da saúde também são humanos, tem suas necessidades pessoais, problemas de saúde, merecem seus horários de família, atividade física, terapia, descanso, feriados e finais de semana, como todo mundo. Por isso, a clínica voltada para Medicina Canabinoide deve contar com consultas iniciais de longa duração e serem completas de informação, da anamnese a prescrição.
*Dr Leopoldo Pires é médico prescritor de cannabis, fundador do Instituto Hemp em Feira de Santana. É formado em medicina pela Universidade Estadual de Feira de Santana e pós-graduado em Cannabis Medicinal.