Desenvolver tratamentos para transtornos mentais ainda é um grande desafio para a medicina contemporânea. Os motivos vão desde a pouca compreensão sobre o funcionamento do sistema nervoso central até a dificuldade de ultrapassar a barreira hematoencefálica. Uma das linhas de pesquisa que tenta encontrar inovações nessa área envolve o uso de substâncias conhecidas como psicodélicos – e, dentro desse universo, a cetamina é uma substância que tem mostrado bons resultados para esse tipo de aplicação.
Já aprovada pelas principais agências do mundo (por via intranasal) para pacientes com depressão resistente a outros tipos de tratamento e para momentos de crise com ideação suicida, a cetamina tem sido avaliada para casos de depressão bipolar e transtornos relacionados a traumas, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Além disso, com a publicação dos primeiros estudos de longo prazo, as evidências de segurança e eficácia não apenas consolidam como também indicam que este é o primeiro grande avanço da psicofarmacologia em mais de meio século.
De acordo com Daniel Costa, psiquiatra do Serviço de Cetamina do Espaço Einstein Bem-Estar & Saúde Mental, o ressurgimento de pesquisas com cetamina e outros psicodélicos se deve a um vácuo terapêutico para muitos pacientes com transtornos mentais, escancarado especialmente após a pandemia. “Existe uma necessidade não atendida nessa área. Temos hoje recursos muito bem estabelecidos para tratar esse tipo de condição, mas a verdade é que os tratamentos disponíveis funcionam apenas para uma parcela da população”, explica.
A afirmação do especialista é corroborada por alguns dados, que estimam que apenas 30% dos pacientes diagnosticados com depressão respondem ao tratamento com antidepressivos convencionais. Um dos motivos para isso, segundo Acioly Lacerda, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), era o fato de que os estudos costumavam recrutar grupos heterogêneos para os ensaios clínicos de psiquiatria, sem olhar para os diferentes perfis de sintomas e manifestações da doença.
Agora, há uma tendência crescente a estudar quadros específicos, como a depressão psicótica e a pós-parto. Isso porque eles podem apresentar componentes biológicos diferentes, o que explicaria, em parte, a baixa resposta à classe comum de antidepressivos. “A depressão é um guarda-chuva com diversas síndromes. Nosso desafio hoje é dividir esse grupo em subgrupos mais homogêneos e, a partir daí, desenvolver tratamentos que sejam aplicáveis não a qualquer caso de depressão, mas à depressão com determinadas características”, afirma Lacerda.
As informações desta reportagem foram retiradas do portal Futuro da Saúde.
