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Cannabis pode influenciar doses de anestesia e sintomas em pacientes com câncer, indicam estudos

by Redação

Pesquisas revelam que usuários de cannabis podem exigir maiores doses de sedação em procedimentos médicos e apresentam sintomas mais intensos durante o tratamento oncológico

Com o avanço do uso medicinal da cannabis em estados norte-americanos, pesquisadores da Universidade de Ciências da Saúde de Oklahoma estão lançando luz sobre como o consumo da planta afeta pacientes submetidos à sedação e aqueles em tratamento contra o câncer. Os dados levantam questões importantes sobre segurança, eficácia e protocolos personalizados para quem faz uso regular de cannabis.

Um dos estudos, publicado na revista científica Gastrointestinal Endoscopy, avaliou 976 pacientes submetidos à endoscopia. Entre os participantes, 21,5% relataram uso recente de cannabis. Os resultados mostram que esses pacientes tinham 77% mais chances de necessitar de doses mais altas de propofol, um anestésico comum, e 57% mais chances de precisar de mais midazolam, um sedativo amplamente utilizado. Além disso, o anti-histamínico difenidramina foi mais frequentemente utilizado para complementar a sedação em usuários de cannabis.

“Entender previamente como cada paciente responde à sedação pode ser crucial para garantir segurança e conforto durante o procedimento”, explicou o gastroenterologista Mohammad Madhoun, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Oklahoma.

Em outro estudo, pesquisadores da Faculdade de Odontologia da mesma universidade identificaram padrões semelhantes. Pacientes usuários de cannabis que passaram por procedimentos odontológicos sob anestesia geral ou sedação profunda necessitaram de doses elevadas de propofol, midazolam, cetamina e fentanil, mesmo com procedimentos de complexidade similar.

“Esse é um dos grandes desafios em pacientes que usam cannabis com frequência”, observou o pesquisador Fabio Ritto. “Saber disso com antecedência pode ajudar os profissionais a decidirem se o procedimento deve ser feito em ambiente hospitalar.”

Outro estudo conduzido no OU Health Stephenson Cancer Center investigou o impacto da cannabis entre 267 pacientes em tratamento oncológico. Destes, 26% relataram uso da planta nos 30 dias anteriores à pesquisa, com o objetivo de aliviar dores, náuseas, insônia, ansiedade e espasmos musculares.

Apesar disso, os resultados apontaram que usuários regulares de cannabis relataram maior intensidade de sintomas físicos e psicológicos em comparação a não usuários. Uma possível explicação, segundo os pesquisadores, é que pacientes com sintomas mais severos recorrem à cannabis com mais frequência, o que pode enviesar os resultados.

“Os dados não deixam claro se a cannabis está realmente agravando os sintomas ou se os pacientes mais sintomáticos são os que mais buscam esse tipo de tratamento”, afirmou a pesquisadora Darla Kendzor, codiretora do TSET Health Promotion Research Center.

Outro ponto de atenção é a forma de consumo: a maior parte dos pacientes optou por produtos comestíveis, mas fumar cannabis foi o segundo método mais relatado. Pesquisadores alertam para os riscos pulmonares associados ao fumo da planta.

A equipe da Universidade de Oklahoma reforça a necessidade urgente de ensaios clínicos randomizados que avaliem os efeitos de diferentes produtos de cannabis disponíveis no mercado. No entanto, as restrições federais nos Estados Unidos ainda dificultam a realização desse tipo de pesquisa em larga escala.

“Muitas pessoas estão usando cannabis medicinal, mas ainda sabemos muito pouco sobre seus efeitos reais em pacientes oncológicos”, explicou a médica radio-oncologista Christina Henson. “Precisamos de estudos clínicos mais robustos para entender se a planta realmente ajuda ou se os sintomas são causados por fatores externos.”

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