Pesquisa financiada pelo governo mostra que setor da cannabis é mais rigoroso e transparente em políticas de proteção à saúde do que o mercado de bebidas alcoólicas
Um novo estudo financiado por uma agência governamental dos Estados Unidos concluiu que os órgãos estaduais responsáveis por regular a cannabis recreativa são significativamente mais atentos à saúde pública do que aqueles encarregados de fiscalizar o mercado de bebidas alcoólicas.
Segundo a pesquisa, desenvolvida por especialistas ligados à Universidade de Maryland, 68 por cento das agências que regulam a cannabis incluem metas explícitas de saúde pública em suas diretrizes institucionais. Entre as agências que supervisionam o álcool, esse índice cai para 35 por cento.
O estudo analisou relatórios anuais de órgãos reguladores de todos os 24 estados norte-americanos que, até meados de 2025, haviam legalizado o uso adulto de cannabis. Os pesquisadores compararam objetivos, ações e descrições de cooperação com autoridades de saúde, avaliando em que medida cada agência implementa políticas voltadas à redução de danos e à segurança da população.
Os resultados contrariam o discurso político que, ao longo da última década, repetiu o slogan regular a maconha como o álcool para promover a legalização. Na prática, destacam os autores, o setor da cannabis vem sendo fiscalizado de forma mais robusta e alinhada a critérios de saúde pública do que a indústria de bebidas alcoólicas.
A pesquisa também identificou diferenças entre os estados de acordo com o modelo de legalização. Os estados que aprovaram a cannabis recreativa por meio de seus Legislativos apresentam um maior número de indicadores de saúde pública do que aqueles que legalizaram via plebiscito. Enquanto as primeiras ondas de leis pró-cannabis dependeram de iniciativas populares, os estados que avançaram mais recentemente têm construído regulações mais sofisticadas e transparentes.
Mesmo considerando variações regionais, os pesquisadores concluíram que as agências da cannabis relatam ações de saúde pública com maior frequência, enquanto os órgãos responsáveis pelo álcool concentram esforços em atividades de cunho policial, e não sanitário. Para especialistas em políticas de drogas, o achado evidencia que a legalização, quando estruturada com responsabilidade, amplia a capacidade do Estado de atuar preventivamente, em vez de focar apenas em repressão.
Financiado por um programa do Departamento de Controle de Cannabis da Califórnia, o estudo foi publicado na edição de dezembro de 2025 do International Journal of Drug Policy. Os autores reforçam que futuras pesquisas serão importantes para avaliar como essas ações efetivamente impactam a vida de consumidores e comunidades afetadas pela política de drogas.
A divulgação ocorre em um momento em que parlamentares dos EUA trabalham, de forma bipartidária, para criar um modelo federal de regulação da cannabis inspirado no sistema aplicado ao álcool. Uma proposta debatida na Câmara dos Deputados prevê a criação de uma comissão responsável por formular diretrizes nacionais para o setor.
O debate também avança enquanto grupos da indústria do álcool pressionam por um marco regulatório que inclua produtos derivados do cânhamo e enquanto lideranças conservadoras admitem publicamente que a guerra contra a maconha foi perdida. Para esses parlamentares, chegou a hora de o país estabelecer regras claras e atualizadas que permitam aos estados seguir seus próprios modelos, sem interferência federal e com foco real em saúde pública.
