Decisão da NIDA visa corte de gastos, mas não compromete oferta imediata para estudos; especialistas veem espaço para diversificar fornecedores e melhorar qualidade dos insumos
A Agência Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos (NIDA) anunciou o fim de novas encomendas de cannabis para pesquisa à Universidade do Mississippi (Ole Miss), encerrando uma parceria de mais de cinco décadas. A decisão, segundo a agência, decorre de uma diretriz do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), implementado durante a administração Trump, para reduzir custos em contratos federais.
Apesar da suspensão, a NIDA afirma que a medida não deve afetar o fornecimento de cannabis para estudos autorizados, já que o estoque atual é suficiente para atender à demanda até o fim de 2025. O contrato com a Ole Miss segue ativo até 2028, mas novas tarefas de cultivo não serão encomendadas neste momento.
Por décadas, a Universidade do Mississippi teve exclusividade no cultivo de cannabis para pesquisas federais. Embora a Agência de Fiscalização de Drogas (DEA) tenha autorizado outros sete produtores nos últimos anos, a NIDA continuava contratando apenas a Ole Miss. Essa exclusividade, porém, foi alvo de críticas por parte de cientistas, que alegavam baixa qualidade, inconsistência e inadequação dos produtos para testes clínicos rigorosos.
A Dra. Sue Sisley, da Scottsdale Research Institute, uma das novas cultivadoras aprovadas pela DEA, celebrou a decisão: “A cannabis que cultivamos é muito superior à da Ole Miss. Fornecemos 400 frascos para um estudo clínico sobre autismo, por exemplo. Esse monopólio era arcaico e ineficiente.”
Enquanto alguns temem que o fim dos pedidos possa gerar um vácuo no fornecimento, outros apontam que o real obstáculo à expansão da pesquisa não está no suprimento, mas nas restrições legais e falta de financiamento, uma consequência da classificação da cannabis como substância da Tabela I (sem valor terapêutico reconhecido).
“A demanda por cannabis de pesquisa ainda é baixa porque há poucos estudos sendo financiados. É disso que precisamos: mais recursos e menos entraves regulatórios”, afirmou Sisley.
Abertura de mercado e expectativa por regulamentação
Para a empresa Maridose, uma das fornecedoras licenciadas, a mudança pode abrir caminho para uma melhoria na qualidade dos insumos usados em pesquisas. “A cannabis dos novos produtores se aproxima mais da que é vendida ao público em mercados regulados, o que deve aprimorar os resultados dos estudos”, declarou o fundador, Richard Shain.
Ele também negou que a suspensão indique um retrocesso na postura do governo em relação à cannabis. “Outros programas federais continuam, como o centro de pesquisa da NIH hospedado na Ole Miss. Não há sinal de que o apoio à pesquisa esteja sendo desmontado.”
Apesar do corte, a Universidade do Mississippi não deixará o campo da pesquisa canábica. A instituição continua à frente de iniciativas como o Centro Nacional de Produtos Naturais e o Centro Nacional de Pesquisa e Educação em Cannabis, além de abrigar o novo Resource Center for Cannabis and Cannabinoid Research (R3CR), projeto financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) em parceria com a Washington State University e a United States Pharmacopeia.
Segundo a universidade, seu histórico de mais de 57 anos no estudo da cannabis seguirá sendo aproveitado para contribuir com descobertas científicas e inovação no setor.
