Um comitê de ação política (PAC) fundado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, está fazendo campanha contra a confirmação de Robert F. Kennedy Jr. como Secretário de Saúde do governo Trump. Entre os argumentos apresentados, o grupo destaca o apoio de RFK Jr. à reforma das políticas sobre maconha e psicodélicos, bem como seu histórico pessoal de uso de substâncias.
Antes da audiência de confirmação no Senado, marcada para esta quarta-feira (29), o PAC Advancing American Freedom (AAF) enviou uma carta aos senadores republicanos alertando que as posições do indicado “minariam a ordem pública, aumentariam transtornos e expandiriam maciçamente o tamanho do governo”.
“Como candidato à presidência, RFK prometeu legalizar a maconha e ampliar o acesso a psicodélicos, além de criar ‘fazendas de bem-estar’ para tratar indivíduos com dependência de medicamentos psiquiátricos, incluindo remédios para transtorno de déficit de atenção (TDAH)”, afirma a carta, instando os parlamentares a bloquearem sua indicação para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês).
O comitê também destaca que RFK Jr. “publicamente reconheceu sua dependência de heroína por 14 anos”, lembrando que ele foi preso por posse da substância em 1983 e se declarou culpado. Além disso, a carta menciona suas críticas às vacinas e seu apoio ao direito ao aborto como razões para rejeitá-lo.
“Qualquer um desses pontos já deveria ser motivo suficiente para desqualificá-lo. É fundamental que os senadores avaliem a nomeação de RFK Jr. com clareza”, reforça o documento. “O movimento conservador tem uma ampla base de líderes corajosos dispostos a reformar o HHS sem os problemas de RFK.”
Ainda não está claro se a pressão do PAC de Pence terá impacto entre os republicanos no Senado, que em sua maioria defendem que a eleição de Trump representa um mandato popular para confirmar seus indicados.
Por outro lado, apoiadores da reforma das políticas de drogas veem a nomeação de RFK Jr. como uma oportunidade única, dada sua postura favorável à legalização da maconha e ao uso terapêutico de psicodélicos. A senadora Elizabeth Warren (D-MA), por exemplo, enviou um documento de 34 páginas a Kennedy questionando sua posição sobre a reclassificação da cannabis em nível federal.
Kennedy seguiu um caminho político incomum antes de sua indicação. Inicialmente candidato à presidência pelo Partido Democrata, ele migrou para uma candidatura independente após baixo desempenho nas pesquisas e, por fim, declarou apoio a Trump.
Durante sua campanha, RFK Jr. criticou a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) por sua “supressão dos psicodélicos” e outras políticas que chamou de “guerra contra a saúde pública”.
Embora seu apoio à reforma das políticas de drogas tenha sido bem recebido por alguns setores, como o Departamento de Assuntos de Veteranos (VA), que considera “animadora” sua postura, críticos apontam que sua nomeação pode prejudicar o movimento ao não se basear suficientemente em evidências científicas.
Ex-governador do Texas e ex-integrante do primeiro governo Trump, Rick Perry, por sua vez, elogiou a escolha de Kennedy, afirmando que sua presença no governo seria um “grande presente” para a reforma dos psicodélicos, especialmente no acesso à ibogaína para tratar transtornos mentais graves.
A nomeação de Kennedy também se alinha com a postura de outras figuras do futuro gabinete de Trump, como Tulsi Gabbard, ex-deputada do Havaí, indicada para Diretora de Inteligência Nacional, e Elon Musk, indicado para comandar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).