Apesar das mudanças recentes nas políticas de moderação de conteúdo anunciadas pela Meta — dona do Facebook, Instagram e Threads —, a empresa continua a restringir conteúdos relacionados à cannabis. Termos como “maconha” e “cannabis” seguem bloqueados nas buscas das plataformas, que exibem mensagens incentivando os usuários a reportarem supostas “vendas de drogas”.
Na última terça-feira (7), Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, revelou uma série de atualizações em políticas de moderação, incluindo o fim da verificação de fatos por terceiros. No lugar, a Meta introduzirá o modelo “Community Notes”, no qual os próprios usuários podem sinalizar conteúdos duvidosos. Além disso, a empresa anunciou a remoção de restrições para temas como imigração e identidade de gênero, classificando-os como parte de debates políticos “mainstream”.
“Permitiremos mais discursos, suspendendo restrições sobre temas que fazem parte do debate público, enquanto focamos em violações ilegais e de alta gravidade”, afirmou a empresa.
Porém, para muitos envolvidos no setor da cannabis — incluindo pacientes de maconha medicinal, criadores de conteúdo, veículos de notícias e até mesmo órgãos governamentais —, as novas políticas não trouxeram alívio. Conteúdos educativos ou relacionados a regulamentações estatais ainda enfrentam censura ou baixa visibilidade nas plataformas da Meta.
Restrição ao acesso e falta de esclarecimentos
Mesmo após o anúncio, buscas por termos como “Massachusetts Cannabis Control Commission” ou “Marijuana Policy Project” continuam sem resultados relevantes. Em vez disso, os usuários recebem mensagens sugerindo que denunciem vendas de drogas.
A Comissão de Controle de Cannabis de Massachusetts confirmou os desafios enfrentados ao tentar divulgar informações públicas no Facebook e Instagram. “Shadow bans e outras medidas restritivas dificultam que stakeholders encontrem nossa agência, inibindo mensagens importantes que deveriam alcançar o público”, declarou um porta-voz.
A mesma dificuldade é enfrentada por criadores de conteúdo, como Brian “Box” Brown, cartunista responsável pelo Legalization Nation, que retrata temas relacionados à legalização da cannabis. Segundo ele, suas postagens passaram a ser frequentemente sinalizadas e despriorizadas nos algoritmos do Instagram, o que impactou negativamente seu alcance e crescimento.
Debate sobre políticas contraditórias
Embora a Meta tenha flexibilizado anúncios de produtos de CBD não ingeríveis em 2023, o conteúdo sobre cannabis psicoativa continua sendo alvo de restrições. Críticos argumentam que, enquanto álcool e tabaco são promovidos sem obstáculos, conteúdos educativos ou voltados para saúde pública envolvendo cannabis enfrentam filtros rígidos.
Outras plataformas de tecnologia têm adotado políticas menos restritivas. O Twitter, por exemplo, passou a permitir anúncios de cannabis regulamentada em 2022, enquanto o Google atualizou suas diretrizes para permitir a promoção de produtos tópicos de CBD com baixo teor de THC.
Ainda assim, a postura da Meta continua a ser motivo de frustração para defensores da cannabis e empresas do setor. Morgan Fox, diretor político da organização NORML, classificou como “decepcionante” o fato de as restrições permanecerem em vigor, dificultando o acesso do público a informações relevantes sobre o tema.
As mudanças anunciadas pela Meta, apresentadas sob a bandeira da “liberdade de expressão”, ainda não ofereceram uma solução clara para as limitações impostas ao conteúdo sobre cannabis — uma questão que segue no centro do debate sobre moderação e inclusão digital.