Pesquisas recentes sobre os efeitos psiquiátricos da psilocibina revelam uma relação complexa e potencialmente bidirecional entre os efeitos terapêuticos do psicodélico e o sono. Segundo um estudo publicado na Current Psychiatry Reports, o uso de psilocibina não só parece reduzir os distúrbios do sono em pacientes por até quatro semanas, mas o próprio sono pode influenciar de maneira significativa a eficácia do composto, em um processo complexo, mas proeminente.
A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional das universidades Johns Hopkins, da Califórnia em São Francisco, Imperial College London e da Universidade de Amsterdã, observou que tanto os sintomas de depressão quanto os distúrbios do sono diminuíram consideravelmente após o uso de psilocibina. No entanto, os benefícios no sono foram menos pronunciados quando comparados às melhorias observadas nos sintomas depressivos. “Distúrbios do sono mais severos no início estavam associados a uma menor probabilidade de remissão da depressão, sugerindo uma interação potencial entre o sono e a eficácia da psilocibina”, explicaram os autores.
O estudo incluiu 886 adultos que haviam manifestado interesse em usar psicodélicos no futuro, com 653 participantes especificamente interessados na psilocibina, dada sua relevância clínica no tratamento da depressão. Os participantes preencheram um questionário de 16 questões sobre sintomas de depressão, incluindo itens que avaliavam insônia inicial, distúrbios do sono durante a noite, despertar precoce e hipersonia (excesso de sono).
Os resultados mostraram uma “redução significativa nos distúrbios do sono” após o uso de psilocibina. Embora a magnitude dessa redução tenha sido pequena, efeitos maiores foram observados em participantes com distúrbios do sono moderados a severos no início do estudo. Os sintomas depressivos também apresentaram uma diminuição significativa, com uma redução “moderada a grande” ao longo do período da pesquisa.
Além disso, os autores destacaram uma relação interessante entre distúrbios do sono e sintomas depressivos entre os participantes. Embora os distúrbios do sono prevessem sintomas depressivos subsequentes, os sintomas depressivos não pareciam prever distúrbios no sono. Isso sugere uma conexão significativa entre o sono e a ação terapêutica da psilocibina, de acordo com o estudo.
Quanto ao mecanismo subjacente dessa relação, os pesquisadores propuseram três hipóteses possíveis: 1) melhorias no sono podem estar diretamente envolvidas no caminho terapêutico da psilocibina para os sintomas depressivos, 2) um sono inadequado pode interferir diretamente nos mecanismos fisiológicos que sustentam a ação terapêutica da psilocibina, e 3) distúrbios do sono podem representar um traço ou endofenótipo em indivíduos que provavelmente terão uma resposta terapêutica ruim.
Os resultados levantam novas questões sobre a complexa relação entre sono e psilocibina e sugerem que o sono pode desempenhar um papel crucial na eficácia terapêutica do psicodélico. Embora o mecanismo exato ainda não esteja claro, os autores acreditam que o sono pode ser uma área promissora para futuras investigações.
O estudo é particularmente relevante à medida que a psilocibina ganha atenção como uma terapia promissora para condições de saúde mental, incluindo transtornos depressivos. Recentemente, um estudo publicado no jornal Psychedelics sugeriu que até 60% das pessoas em tratamento para depressão nos EUA poderiam se qualificar para a terapia assistida com psilocibina, caso o tratamento fosse aprovado pelo FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA).
Em paralelo, outros estudos também têm mostrado os efeitos promissores da psilocibina, como um ensaio clínico que sugere sua eficácia no tratamento do transtorno bipolar II e outros estudos que apontam reduções significativas nos sintomas depressivos após o uso de uma única dose de psilocibina.
Esses avanços destacam a crescente atenção ao potencial da psilocibina como uma alternativa terapêutica para uma variedade de condições de saúde mental, com um foco crescente em entender os mecanismos subjacentes e os efeitos a longo prazo do composto.